Deixa-me sangrar pelos poros
ou estanca, se quiseres,
os meus conceitos envenenados,
a minha mentira ingénua
da qual também és responsável.
Bloqueia o que penso devagar:
faz um garrote aos desentendimentos
das sílabas desenquadradas
saídas da fábrica que produz
barulhos incompreensíveis
numa linha de montagem.
Deixa-me sangrar lentamente
o meu sangue vivo e branco;
oxigena a escrita amadora
livre e plural do ser manifesto.
As palavras são tuas
ofereço-tas embrulhadas
numa folha de papel-manteiga.
A plaqueta tectónica mental
provoca um sismo padrão
e dita a condição sem sorte.
O que interessa aqui estar
se não disser o que sinto
ou entender o que penso?
O tempo é uma invenção do homem,
a boca uma cicatriz por fechar.
Faz-me uma transfusão de palavras
para ressuscitar o verbo desmaiado.
Acaricia-me a fronte
com gestos suaves,
limpa-me o suor,
não digas mais nada...
Isto já passa...
Marco Dias
http://www.livrariapoetria.com/livro.php?m=1&s=17&l=2529
Gostei... muito, mesmo! Não tenho a pretensão de crítica porquanto não tenho estatura literária para tal. Li o seu poema com olhos vulgares e a minha alma agradeceu - talvez por isso tenha gostado tanto e entendido as entrelinhas (que só os poetas reconhecem)
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