quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Os amigos da Poetria

Contactos: Lótus & Lírios - Largo Alexandre Sá Pinto, 44 A2 4050-027 Porto. 222010730/917451218 lotuselirios@gmail.com

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A sociedade é um espectáculo


A alienação do espectador em proveito do objecto contemplado (que é o resultado da sua própria actividade inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo.
Guy Debord, nascido em 1931, em Paris, suicidou-se em 1994, nas montanhas de Auvergne.

http://www.livrariapoetria.com/livro.php?m=6&l=2683

Florbela


A minha Dor

A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias...

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e diasrezo e grito e choro,
E ninguém ouve... ninguém vê...ninguém...

Florbela Espanca
http://www.livrariapoetria.com/livro.php?m=1&s=18&l=2682

Livro do Caminho e do bom Caminhar


(...)
Porque
Ser e não ser nascem um do outro
Difícil e fácil completam-se um ao outro
Longo e breve dão forma um ao outro
Alto e baixo assentam um no outro
Voz e música harmonizam-se uma com a outra
Frente e costas seguem-se uma à outra.
(...)

Lao Tse
http://www.livrariapoetria.com/livro.php?m=5&s=149&l=1993

Agarra que é Poema!



Amo os loucos,
crianças tagarelando
que descobrem, instante
a instante, o mundo
e tudo enovelam
à sua translúcida maneira.

Não possuem maldade,
mas ignorado amor
e incapaz poesia


António Osório


Quero-te porque não te quero



Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.

Pablo Neruda

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Pablo Neruda


Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma raridade de Luís Miguel Nava


PELÍCULAS, Luís Miguel Nava. 1ª EDIÇÃO, Moraes Editores/Círculo de Poesia. Lisboa/1979. 35,00€

Há uma pedra feroz,
um rapaz,
há o olhar do rapaz atado à pedra,
o olhar do rapaz, a minha casa,
o olhar do rapaz às vezes é a pedra.

Luis Miguel Nava


sábado, 25 de agosto de 2012

Lembram-se?


Foi no Café Lusitano, em 2006, com a sessão de poesia: "Vidas de putas são vidas humanas". Estava presente uma prostituta, a Anabela, que foi dizer poemas da sua autoria.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O poema não come todas

Língua de fogo do não

(...)
O poema não come todas.
O poema não é tributável. Nem atóxico, inodoro ou inquebrável.
O poema não sabe ficar quietinho.

O poema não pode ser preso.
Nem torturado, morto, estuprado, sequestrado, mutilado, roubado, operado, sodomizado, reeducado, dopado, humilhado, bombardeado, conquistado, saqueado, raptado, ameaçado, multado, electrucutado, queimado, furado, cegado, crucificado, desmembrado, enforcado, guilhotinado, pisado, garroteado, picado, partido, moído, cortado, empalado, frito, cozido, assado, esquecido, vencido, lavado, desintoxicado, trucidado, massacrado, escravizado, humanizado, podado, censurado, amarrado, enganado, corrompido, comprado, convencido, julgado, condenado, apenado, difamado, injuriado, caluniado, desacreditado, distorcido, adulterado, anulado ou apagado.

O poema também não pode ser caladoi.

O poema é um comilão, um vagabundo, um inútil mesmo.
Isso é o que ele é.
..........................
Infame ter de se concentrar para sentir
o pejo de um mundo sem poesia.

Andityas Soares de Moura

(Oficina de poesia - 10 anos, nºs 8 & 9)
http://www.livrariapoetria.com/livro.php?m=8&s=154&l=2679




Couve de Sabóia

Boa noite!
Hoje é o dia internacional das peúgas descalças

três batatas no prato
a hierarquia comercializável
a maioria conformista o mais possível
a vocação da boa vida, convenhamos,
a despontualidade,
a promoção a ministério da deseducação
a crítica bem dispensante
a descultura dos media

fedorentamente juntos superamos expectativas

o (desat)ino nacional
assim, assim, sabes?
tenho fases, como o sol
as metamorfases

também mulheres, muitas,
talvez mil

Ana Braz

(Oficina de poesia - 10 anos, nºs 8 & 9)
http://www.livrariapoetria.com/livro.php?m=8&s=154&l=2679

Pesada leveza flores de plástico

assim
tudo arranjadinho
os cristãos do referendo no fundo não são má gente
o menino jesus é que fala mau português
lamento
não conhecia os sms

a fundação para a promoção da alegria dos devotos (diarreia de beatices)
desliberaliza, descensura e publica um boletim deinformativo
um pecado mortal desgravíssimo
um pastor de cabras que faz xixi na cama
vejo-me aflito com a malta, pá!
o lixo que a vida tem!

agora, aos sessenta, o pulso é pesado desde dentro
um país velho é um país mais doente

hoje é antevéspera de natal:
"f.natl, mt paz e mts bjs"

Ana Braz

(Oficina de poesia - 10 anos, nºs 8 & 9)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

ICI ON PARLE FRANÇAIS

Mon ami Pierre Delord m'a envoyé ces livres de Charles Juliet, poète français. Merci, Pierre.

Le temps ne porte plus

les mots gisent à terre
et la lumière
des premiers matins
mutilent la mémoire

la faim
dévore
la faim

l'oeuvre scrute
un jour
vide


QUESTÃO DE GÉNERO

as mulheres assumem-se
socialistas, capitalistas,
feministas, machistas...

e não me entendem
quando me assumo Preta
vivo minha pretidade!

qual a necessidade
de me assumir preta?
senão na polis
onde a minha humanidade
é negada

Lourenço Cardoso

(Oficina de Poesia - 10 anos, nºs 8 & 9)
PROCURA-SE

Procura-se um homem
que desapareceu no dia 14.

Calçava sapatos pretos
e vestia uma espécie de nuvem,
dessas que se acham em qualquer lugar.

Costuma falar sózinho,
especialmente quando caminha.

Quando desapareceu,
carregava uma bolsa
com alguns poemas sem palavras
e alguns acenos suicidas.

Comia morangos
quando desapareceu.

Também carregava
duas estrelas mortas
no bolso da camisa,
do lado esquerdo.

Dizia que não tinha nome,
mas era por esquecimento.

Procura-se esse homem
que sumiu com alguns segredos.

Disse que ia falar com as pedras
e desapareceu no dia 14.

Quem tiver alguma notícia
sobre seu paradeiro
por favor
não informar ninguém.

Álvaro Alves de Faria

(Oficina de poesia - 10 anos, nºs 8 & 9)

Final

Ponho fim à vida
em legítima defesa.

Álvaro Alves de Faria

(Oficina de Poesia - 10 anos, nºs 8 9)

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Para que servem?

Para que servem poetas
em tempos de penúria?

Para que servem
tempos de penúria?

Adília Lopes

(in "Oficina de Poesia, 10 anos, nºs 8 & 9)

O bom público da Poesia

(...)
louvado seja pois o público da poesia
louvado o seu justo nobre grande amor pela poesia
em cujo reflexo nós pálidos humildes mensageiros
vivemos gratos e bem-dizentes
(...)

(Oficina de Poesia - 10 anos, nºs 8 & 9)

Revista da palavra e da imagem

Revista "Oficina de Poesia", 10 anos - nºs 8 & 9

(...)
como sempre não tenho nada para lhe dizer
como sempre o público da poesia sabe isso muito bem
mas di-lo apenas de si para si e não em voz alta
não só porque é delicado solícito jovial

e no fundo também reservado optimista de bom trato
mas acima de tudo porque ama
ama de um amor profundo sincero irresistível
dum amor tenaz exclusivo dilacerante
(...)

A Índia de Sugunamma

A gota de água para Sugunamma foi quando descobriu que o marido estava a tentar vendê-la, a ela e aos filhos, como escravos. Levou-os para a cidade de Hyderabad mas a pessoa que organizava o tráfico já não estava lá. Sugunamma aproveitou então para fugir com as crianças durante uma paragem nocturna no caminho de regrasso. Foi a última vez que viu o marido.

(in "Cais", #175, Julho/Agosto)

O mar do Molhe


OS NOMES DO TEMPO - José Manuel Morão - Ed. autor, 1ª edição - 2011

Encoberto, o molhe das
escuras águas,
inundando as cordas,
quando na avolumada pedra
se descerram os limos
do tempo.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

«Muitos sóis e luas irão nascer/ mais ondas na praia rebentar»

«you strike my side by accident/ as you go down for your gold»



Obrigada, Betânia
http://theballadofthebrokenbirdie.blogspot.pt/

a propósito de pássaros azuis




there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pour whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?

escrito por Charles Bukowski e, aparentemente, retomado por Kristian Matsson, The tallest man on Earth: