Sou o omnivoraz filho
herdeiro de insensatez genética
da fervida veia poética
que se desculpa com a natureza.
Trago no ADN comportamentos estrangeiros,
irresponsabilidade infantil,
cabazes de risco e premonição,
sonhos de marinheiro, poemas nos pulmões.
Devoro quadros e marisco,
palavras de Roquefort.
Tenho fome de ideologias, sede de magias.
Sofro de indigestões.
Desafio tudo e todos
a percorrerem o meu fio milimétrico
em pezinhos de lã azul,
a atravessarem a minha fronteira negra
com passaporte falsificado.
Podem sempre voltar e retroceder
para isso a que se chama passado,
vomitar na semi-iluminada alfândega
o medo aos pedaços.
Mastigo a insuportável imoralidade social
e cuspo as suas grainhas de uva
a três metros de distância
de tudo e todos.
Ponho em causa mesmo o infinito.
Durante o pouco tempo que me resta,
transformo o último segundo
no derradeiro risco.
Eu já sabia que iria ser assim, e tu?
É o único decente formato de vida
inteiro, sentido, vivido e morrido.
A vida mal copiada de um ficheiro ZIP.
Marco Dias
http://www.livrariapoetria.com/livro.php?m=1&s=17&l=2529
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