quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Omnivoraz

Sou o omnivoraz filho
herdeiro de insensatez genética
da fervida veia poética
que se desculpa com a natureza.

Trago no ADN comportamentos estrangeiros,
irresponsabilidade infantil,
cabazes de risco e premonição,
sonhos de marinheiro, poemas nos pulmões.

Devoro quadros e marisco,
palavras de Roquefort.
Tenho fome de ideologias, sede de magias.
Sofro de indigestões.

Desafio tudo e todos
a percorrerem o meu fio milimétrico
em pezinhos de lã azul,
a atravessarem a minha fronteira negra
com passaporte falsificado.

Podem sempre voltar e retroceder
para isso a que se chama passado,
vomitar na semi-iluminada alfândega
o medo aos pedaços.

Mastigo a insuportável imoralidade social
e cuspo as suas grainhas de uva
a três metros de distância
de tudo e todos.

Ponho em causa mesmo o infinito.
Durante o pouco tempo que me resta,
transformo o último segundo
no derradeiro risco.

Eu já sabia que iria ser assim, e tu?
É o único decente formato de vida
inteiro, sentido, vivido e morrido.
A vida mal copiada de um ficheiro ZIP.

Marco Dias
http://www.livrariapoetria.com/livro.php?m=1&s=17&l=2529

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