sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O poema não come todas

Língua de fogo do não

(...)
O poema não come todas.
O poema não é tributável. Nem atóxico, inodoro ou inquebrável.
O poema não sabe ficar quietinho.

O poema não pode ser preso.
Nem torturado, morto, estuprado, sequestrado, mutilado, roubado, operado, sodomizado, reeducado, dopado, humilhado, bombardeado, conquistado, saqueado, raptado, ameaçado, multado, electrucutado, queimado, furado, cegado, crucificado, desmembrado, enforcado, guilhotinado, pisado, garroteado, picado, partido, moído, cortado, empalado, frito, cozido, assado, esquecido, vencido, lavado, desintoxicado, trucidado, massacrado, escravizado, humanizado, podado, censurado, amarrado, enganado, corrompido, comprado, convencido, julgado, condenado, apenado, difamado, injuriado, caluniado, desacreditado, distorcido, adulterado, anulado ou apagado.

O poema também não pode ser caladoi.

O poema é um comilão, um vagabundo, um inútil mesmo.
Isso é o que ele é.
..........................
Infame ter de se concentrar para sentir
o pejo de um mundo sem poesia.

Andityas Soares de Moura

(Oficina de poesia - 10 anos, nºs 8 & 9)
http://www.livrariapoetria.com/livro.php?m=8&s=154&l=2679




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